.:: o fantástico destino de lady mi - parte 3 ::.

"Posso escolher entre ser constantemente ativa e feliz ou introspectivamente passiva e triste. Ou posso ficar louca, ricocheteando no meio" Sylvia Plath

quinta-feira, abril 02, 2009

Raramente leio as revistas "comercias" que chegam pro meu pai. Ontem eu já não tinha mais nada pra fazer e decidi dar uma olhada numa delas. E olha o que eu achei:
Final de amor com filme feliz (Walter Navarro)
Resolvi entrar para o cinema. Foi mais fácil do que eu pensava. Bastou comprar a entrada... Mil perdões, preciso pensar (mais) besteira.
Agora sério. Tô escrevendo um roteiro de uma história triste de amor, com final feliz. O nome roubei do Arnaldo Antunes: "Como vou me perder se eu já me perdi quando perdi você mas se eu já te perdi como vou me perder".
História triste de amor triste pode acontecer em qualquer lugar: Barbacena, Belo Horizonte, Paris, Tóquio, Cabul e até no Beco do Pilão, no cairo, à sombra das pirâmides imortais.
História triste de amor triste é cheia de desencontros, teimosia, orgulho, preconceito, desejo, reparação e muita; muita estultice.
É assim. Ele Tarzan, ela Jane: ele conhece ela e vice-versa; ele canta ela e ela deixa; ele seduz ela e ela gosta. No começo, mar de brigadeiro, céu de almirante porque, no começo, a gente sai do chão, mergulha e voa. Difícil é continuar boiando.
Tudo é perfeito. Tudo se encaixa. Dois lindos bobos; num mundo mais que perfeito, onde só existem os dois. Depois dos dois, os outros são os outros. E assim caminha a humanidade, na solidão a dois. Ele só pensa nela. Ela só pensa nele. Fazem tudo juntos. Trocam e-mails o dia inteiro. Encontram-se, vão ao cinema, vão à festas, namoram com ou sem roupa; fazem planos, trocam juras, beijos, abraços e carinhos sem ter fim. Enfim, cantam, de Françoise Hardy, com voz de Carla Bruni: "Tous les garçons et les filles de mon âge se promènet dans la rue deux par deux. Et les yeux dans les yeux et la main dans la main; ils s'ent vont; amourex; sans peur du lendemain". Podem também cantar em português. Mas já vou avisando que em francês foi muito mais bonito: "Todos os meninos e meninas da minha idade passeiam dois a dois pela rua. E olhos nos olhos e com as mãos dadas, eles se apaixonam sem medo do amanhã".
Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino prá lá...
Pra lá, pra vizinhança do Paulo Mendes Campos: "O amor acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar".
Acaba, mas o coração continua, né? Acaba, mas continua tendo. Ou então, acaba nada. Só dá um tempo, hiberna, para o próximo verão, seguarda, pra quando o carnaval voltar.
Melhor cortar que rasgar?
Nem sempre. Nem uma coisa nem outra.
Amor bonito é aquele que vai e volta, vai de novo, revolta mais uma vez e fica.
É aí que entra meu final feliz.
Assim: depois de tonelada de brigas, tempão de separação, ela está numa mesa de bar com amigos e aquele cretino do... Deixa pra lá... Cíume não cabe em final feliz.
Aí, ele pega um daqueles enormes aparelhos de som, quase portátil, bota no ombro e no maior volume a música "Stand by me", maior rockão apaixonado, com John Lennon. Ele chega cantando junto, tipo serenata, desafinando e desafinado. Porque no peito dos desafinados também bate um coração.
Ele se ajoelha, coloca o som no chão, continua cantando e pedindo "Stand by me". Ela morre de rir e às lágrimas, parte pro abraço, pro beijo, pros carinhos e pro amor sem ter fim.

PS: The (happy) End