.:: o fantástico destino de lady mi - parte 3 ::.

"Posso escolher entre ser constantemente ativa e feliz ou introspectivamente passiva e triste. Ou posso ficar louca, ricocheteando no meio" Sylvia Plath

terça-feira, março 24, 2009

Fragmentos de um discurso amoroso

Anda difícil para mim terminar um livro bobo como o Lua Nova, então, encostar as minhas mãos em um dos livros mais doídos de todos os tempos não me pareceu boa idéia. Escondi ele junto com as fotos que eu não sei quando vão voltar para seu devido lugar. Escondi junto com a angústia que quer me consumir e que eu estou apaziguando com piadas durante o horário de trabalho. Podia estar triste. Queria estar com raiva. Mas só estou esperando. E "esperançando" (talvez seja necessário todo um novo dicionário para acalentar essas palavras dos enamorados). Estou esperando que tudo volte.

Mas não colocar as minhas mãos no livro físico não quer dizer que vou ficar parada. Largada na minha inquietude. Querendo que alguém diga palavras bonitas que eu não consigo escrever agora. E a internet é uma biblioteca vasta e na procura de um consolo, um colo, uma coisa qualquer que eu procurava, achei uma moça. Ela se chama Marília Cortês e tem um blog de mesmo nome.
Como ando roubando inspirações alheias, decidi roubar uma parte de seu post datado de 20 de agosto de 2006 (um domingo, pois os domingos são os dias mais difíceis de digerir):

"apresento aqui, alguns fragmentos inspirados nos "Fragmentos de um Discurso Amoroso" de Roland Barthes. Para quem não conhece, esse livro contém essencialmente a figura do enamorado “que fala de si mesmo, apaixonadamente, diante do outro (o objeto amado) que não fala”. Quando eu os escrevi (na verdade, fiz um recorte dos fragmentos), vivia essa figura completa e desesperadamente enamorada. Sentia-me no turbilhão de uma crise dolorosa, mórbida, da qual eu precisava me curar. Na ausência e esfacelamento do meu amor, buscava fragmentos que pudessem recompô-lo. Precisava de uma trégua, de adocicar meu coração, pois não suportava mais minha própria amargura. Assim, eu procurava incessantemente um lenitivo. E foi na literatura do discurso amoroso que o encontrei, ainda que apenas fugazmente.

Fragmentos...

'...encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um: você... a especialidade do meu desejo. [...] foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras) para que eu encontrasse você, que entre mil, convém ao meu desejo. [...] por que desejo você? por que o desejo por tanto tempo...? [...] espero uma chegada, uma volta, um sinal... pode ser fútil ou imensamente patético. [...] uma mulher espera seu amante, de noite, na floresta; quanto a mim, só espero um telefonema, mas é a mesma angústia. Tudo é solene, não tenho noção das proporções. [...] do sabor de uma ou outra contingência, me deixo levar pelo medo de um perigo, de uma mágoa, de um abandono, de uma reviravolta... [...] na tua ausência, sou, tristemente, uma imagem descolada, que seca, amarelece, encarquilha... [...] uma mutilada que continua a sentir dor na perna amputada... [...] pouco a pouco sufoco, meu ar se rarefaz... [...] ciúmes, angústias, posses, discursos, apetites, signos, o desejo amoroso queima por todo lado. [...] e nada mais doloroso do que uma voz amada e cansada: voz extenuada, rarefeita, exangue, poder-se-ia dizer, voz do fim do mundo, que vai ser tragada muito longe pelas águas frias: ela está no ponto de desaparecer, como o ser amado está no ponto de morrer: o cansaço é o próprio infinito: o que não acaba de acabar. Essa voz breve, curta, quase sem graça pela raridade, esse quase nada da voz amada e distante torna-se em mim uma rolha monstruosa, como se um cirurgião me enfiasse um tampão bem grosso de algodão na cabeça. [...] pois desde que te vejo, por um instante, não me é mais possível articular uma palavra: mas minha língua se quebra e um fogo sutil desliza de repente sob a minha pele: meus olhos não têm olhar, meus ouvidos zumbem, o suor escorre pelo meu corpo, um arrepio toma conta de mim; fico mais verde do que o capim, e por pouco me sinto morrer. [...] quero constantemente arrancar de você a fórmula do seu sentimento, e de minha parte digo constantemente que o amo: nada fica para ser sugerido, adivinhado: para que se saiba uma coisa é preciso que ela seja dita; mas também, desde que ela é dita, ela é provisoriamente verdadeira...'. "
.
Ainda bem que ainda se escrevem coisas boas e verdadeiras por ai. O que eu faria se precisasse, agora, escrever tudo o que estou sentindo se as palavras me fogem?!
.
Me sinto quase assim. Não tão triste. Mais calma. Mas se precisa ser dito, fica aqui registrado por escrito, em mais um dos meus (sempre) esforços patéticos: eu te amo.