.:: o fantástico destino de lady mi - parte 3 ::.

"Posso escolher entre ser constantemente ativa e feliz ou introspectivamente passiva e triste. Ou posso ficar louca, ricocheteando no meio" Sylvia Plath

terça-feira, maio 08, 2007

Decidi levar um livro que ganhei há mais ou menos seis anos atrás para me fazer companhia durante minha viagem de ônibus pra São Paulo na sexta. Enquanto, ao meu lado, meu companheiro de viagem lia algo do gênero "Dicas para enlouquecer uma mulher na cama", eu começo a ler um dos livros que, muito provavelmente, me fará chorar por muito e muito tempo. Bem feito! Quem manda não acreditar na máxima de que a ignorância é uma benção e partir seu coração lendo filosofia????

Toma...

"Lembrem-se de Proust em Em busca do tempo perdido: 'Albertine presente, Albertine desaparecida...' Quando ela não está presente, ele sofre atrozmente?: está disposto a tudo para que ela volte. Quando ela está presente, ele se entedia: está disposto a tudo para que ela vá embora. Não há nada mais fácil do que amar quem não temos, quem nos falta: isso se chama estar apaixonado, e está ao alcance de qualquer um. Mas amar quem temos, aquele ou aquela com quem vivemos, é outra coisa! Quem não viveu essas oscilações, essas intermitências do coração? Ora amamos quem não temos, e sofremos com essa falta: é o que se chama de um tormento amoroso; ora temos quem já não nos faz falta e nos entediamos: é o que chamamos um casal. E é raro que isso baste à felicidade.
É o que Schopenhauer, como discípulo genial de Platão, resumirá bem mais tarde, no século XIX, numa frase que costumo dizer que é a mais triste da história da filosofia. Quando desejo o que não tenho, é a falta, a frustração, o que Schopenhauer chama de sofrimento. E quando o desejo é satisfeito? Já não é sofrimento, uma vez que já não há falta. Não é felicidade, uma vez que já não há desejo. É o que Schopenhauer chama de tédio, que é a ausência da felicidade no lugar mesmo da sua presença esperada. Você pensava: "Como eu seria feliz se..." E ora o se não se realiza, e você é infeliz; ora ele se realiza, e você nem por isso é feliz: você se entedia ou deseja outra coisa. Donde a frase que eu anunciava e que resume tristemente o essencial: 'A vida oscila pois, como um pêndulo, da direita para a esquerda, do sofrimento ao tédio'. Sofrimento porque eu desejo o que não tenho e porque sofro com essa falta; tédio porque tenho o que, por conseguinte, já não desejo."
André Comte-Sponville in A felicidade, desesperadamente