Eu tinha cinco anos e ele se chamava Frederico. Era ruivo e nunca usava cueca, o que era motivo de riso pra mim e minhas coleguinhas de pré-escola. No recreio, ele me pegava pela mão e era meu namoradinho. Eu adorava aquelas sardas e o cabelo vermelho cortado em cuia.
Eu tinha doze anos e estudava no Santo Antônio. Ele era da turma d e se chamava Renato. Ou leite Pap, como a Marta apelidou-o. Ele era louro e branquelo. Eu o achava lindo. Ele me achava esquisita com meus All Stars de cadarço de arco-íris. Eu também me achava estranha.
Em Recife, teve o Bartholomeu. Sim, com quatorze anos me apaixonei por um alto-magro-loiro-de-olhos-verdes e de nome Bartholomeu. Mas ele gostava da Manoela que, como ele, era alta-e-magra-e-linda-e-loira-e-etc.
Aos quinze, teve o Pedro Vicente. O menino que enfiou a cara na janelinha da porta da minha sala no meu primeiro dia de aula na minha nova escola em Brasília. Ele foi meu primeiro amor, meu primeiro namorado e uma das primeiras pessoas que eu vi quase morrer. Era o menino mais lindo que eu já vi na vida e, como percebi com os anos, perdido como tantos outros. Namoramos por um tempo. Um dia, muito depois de tudo, fui visitá-lo no Hospital, ele com récem dezesseis anos completos e internado por conta da sua primeira overdose. Ele pegou na minha mão e me disse "Linda, não se preocupe. Vai ficar tudo bem". Da última vez que o vi, ela segurava a mão de uma moça hippie e parecia feliz. Mas ainda sinto a mão dele sobre a minha enquanto eu tentava não chorar tanto com medo de ver morrer o primeiro amor da minha vida que também era um grande amigo.
Teve o Guilherme que era alto e tinho o cabelo até a cintura e que era meu sonho de consumo. E que eu nunca achei que ia gostar de mim porque eu sempre fui muito esquisita. Mas que me aguentou por quase três anos. Me fez odiar vir morar em Belo Horizonte e odiar mais ainda Curitiba. Mas que dez anos depois, voltou aqui e me disse que eu tinha feito ele sofrer muito mas que eu era especial. E que era muito bom me reencontrar.
Um dia num bar, um par de olhos verdes olhou pra mim. Eu tinha uns vinte e um ele uns vinte e cinco. Também chamava-se Pedro. Namoramos por um tempo e passamos por mais problemas do que por soluções. E um dia vi morrer esse meu segundo amor e também um dos meus melhores amigos. Afogou-se no copo de vodka e foi soterrado pela lama. E eu não pude fazer nada. E me senti culpada.
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Definitivamente, não estou pronta para o novo cd do interpol...
1 Comments:
At 12:57 AM, Anônimo said…
não estou boa pra falar agora, pq estou assim como vc, perdida nessas lembranças... eu não queria um dr. merszviak, mas sim alguém que pudesse deixar essas memórias pemranentemente tocando, num looping real e infinito...
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